CLUPAC - Clube Português de Coleccionadores de Pacotes de Açúcar

domingo, janeiro 28, 2007



Este nosso CLUPAC!

Dois meses apenas após a eleição dos novos Corpos Sociais do CLUPAC, não posso deixar de louvar a actual Direcção pelos seus projectos audaciosos e pelas iniciativas que tem tido, em prol do desenvolvimento do nosso Clube.

Na origem do CLUPAC, há meia dúzia de anos, estava a primeira necessidade de estabelecer o encontro e o contacto entre coleccionadores, bem como de dar a conhecer ao mundo a existência do coleccionismo de pacotes de açúcar.

Em muito poucos anos, o salto que se deu foi gigantesco. Hoje, os coleccionadores podem comunicar na internet através de mailing lists; diversos sites e blogues sobre coleccionismo de pacotes de açúcar oferecem informação e debate sobre o tema; as trocas de pacotes pelo correio são prática generalizada de muitos coleccionadores; multiplicam-se os encontros de trocas aqui e ali, enquanto que os tradicionais encontros de coleccionadores são pouco a pouco conquistados pelos coleccionadores de pacotes de açúcar.

Entretanto, o nosso hobby tem vindo a ser engrandecido com o trabalho de diversos coleccionadores, com a criação de álbuns ou catálogos de pacotes de açúcar, de âmbito generalista ou mais específico. A imprensa conta já com dezenas de publicações alusivas ao coleccionismo de pacotes de açúcar, em artigos, reportagens ou simples notícias. A rádio e a TV têm dado também um crescente destaque a estes temas.





Perante um tal dinamismo, o que se exige dum clube de coleccionadores como o CLUPAC já não é o mesmo. Os coleccionadores já não precisam do CLUPAC para se conhecerem ou encontrarem. A informação está disponível em diversos locais. Aqueles que foram os primeiros objectivos do Clube foram assim evoluindo para planos mais abrangentes.

Com as limitações que todos conhecemos, as Direcções do CLUPAC têm sabido acompanhar esta evolução e criar novas vertentes na sua actuação enquanto associação. O CLUPAC promove e organiza anualmente aquele que é hoje em dia um dos maiores encontros mundiais de coleccionadores de pacotes de açúcar – o PortSugar – cuja importância e qualidade de organização ultrapassam fronteiras. Com a exposição Viagens do Açúcar, o CLUPAC leva às nossas escolas o coleccionismo de pacotes de açúcar, dando-o a conhecer aos jovens e despertando novos coleccionadores. Com o CLUPAC Solidário, distribui açúcar do esvaziamento de pacotes por instituições carenciadas.

Com um portal e um blogue na internet, uma revista semestral e uma folha informativa mensal dirigida a cada um dos seus sócios, agora também em espanhol, francês e inglês para os membros estrangeiros, o Clube continua a intensificar a informação e o contacto entre os seus associados.

A actual Direcção pretende ainda criar, entre outros, o projecto CLUPAC Escolas, com um verdadeiro programa pedagógico de motivação ao coleccionismo para as faixas etárias mais jovens: está já a intensificar contactos com embaladoras de pacotes de açúcar com vista à obtenção e distribuição de informação actual e fidedigna sobre as suas emissões; pretende começar a editar catálogos anuais das emissões de séries nacionais; a nível interno, faz um esforço para melhorar a organização administrativa do Clube, com um objectivo claro de conseguir concretizar um velho sonho – uma sede própria. Isto para além de outros projectos que, com a ajuda de todos, certamente se concretizarão.

Como associado, tenho um imenso orgulho em pertencer ao CLUPAC! Pertenço a um Clube com uma Alma própria. Mais do que um simples ficheiro de contactos, ou um organizador de eventos, o CLUPAC é um projecto colectivo com uma vocação social e de interesse público com que me identifico totalmente.

À enorme generosidade daqueles que, dando-nos o sacrifício do seu tempo, estão agora em início de mandato como dirigentes do CLUPAC, devemos responder com o nossa colaboração, apoiando as suas iniciativas e engrandecendo, cada vez mais, o nosso Clube!

Vamos ajudar a Direcção!
Viva o coleccionismo de pacotes de açúcar!
Viva o CLUPAC!


Rui Colaço
Sócio Nº 6 do CLUPAC

colaco.rui@gmail.com

quinta-feira, janeiro 25, 2007

Caixa de pães de açúcar

Quando há alguns anos comecei a frequentar encontros de coleccionadores de pacotes de açúcar no estrangeiro, surpreendi-me com a quantidade de embalagens de açúcar com o formato do “pão de açúcar” que apareciam e com a grande procura que estas peças tinham por parte dos coleccionadores estrangeiros. Era curioso para mim ver todas aquelas formas cónicas, arredondadas na ponta, em coloridas embalagens de papel ou de celofane, nos mais variados tamanhos.

Já sabia que este era o formato dos blocos de açúcar que antigamente se produziam nos velhos engenhos, quando saíam das formas cónicas, depois de feita a decantação do “caldo de cana”. A cana era espremida e o caldo fervido e concentrado. O açúcar era então colocado nos moldes e drenado através dum único orifício que estes tinham, ficando no seu interior apenas um enorme torrão de cristais de açúcar.

Aliás, foi pela sua semelhança com estes pães de açúcar que os portugueses baptizaram com esse nome o enorme penhasco que viria a ser um dos símbolos da cidade do Rio de Janeiro, no Brasil.

Curiosamente, o pão de açúcar continua a ser produzido com essa forma no norte de África, onde se encontra com facilidade em mercearias, embalado em papel pardo, cinzento ou azul forte, depois atado com um cordel e com um rótulo ou carimbo que o identifica. Em casa, pode ser raspado ou partido em torrões de forma irregular, segundo o fim pretendido.

Na Europa central, nomeadamente na Alemanha, continua a ser tradicional a produção do pão de açúcar, mas para uma finalidade diferente. É encharcado em rum e posto a arder, num suporte próprio, sobre um recipiente que contém vinho quente. O açúcar caramelizado e aromatizado pelo rum vai pingando sobre o vinho, o que faz uma bebida reconfortante para as noites frias de Inverno.

Depois de ter já na minha colecção talvez uma dúzia de pães de açúcar, em embalagens individuais diferentes, apanhadas aqui e ali, uma amiga ofereceu-me uma peça muito curiosa, que está ligada a esta tradição. Trata-se duma caixa de cartão onde se encontram, muito bem acondicionados, dez pequenos pães de açúcar embrulhados em papel vegetal.

Segundo me contou, estas caixas eram feitas por um velho pasteleiro que as vendia na sua pequena loja em Berlim por alturas do Natal, justamente para esse ritual da bebida de açúcar, rum e vinho quente. Após a sua morte a loja fechou e alguém as recuperou, em perfeito estado de conservação.

E uma dessas caixinhas brancas, sem marca, viajou para Portugal e é uma das peças queridas que hoje guardo na minha colecção.


Rui Colaço
Sócio Nº 6 do CLUPAC
colaço.rui@gmail.com

terça-feira, janeiro 16, 2007

AGRIDOCE

A notícia nascera tímida, envergonhada, espremida entre a margem e o escândalo mediático, mas lá estava aberta a visões mais largas e interessadas.

No Brasil, o maior produtor mundial de cana-de-açúcar, onde pouco mais de um terço da produção é mecanizada, o homem compete directamente com a máquina no corte daquela herbácea, por vezes em condições que fazem lembrar os tempos de escravatura que julgávamos distantes na memória. Recordo que por aquelas paragens a escravatura foi abolida em 1888.

Entre 2004 e 2005, treze trabalhadores migrantes, fugindo à sombra cada vez mais estreita que os seus corpos produziam nas secas terras nordestinas, encontraram a morte nos canaviais devido a excesso de trabalho.

A decisão da Organização Mundial do Comércio (OMC), relativa à produção europeia subsidiada, e a subida do preço do barril de petróleo acordou o sector, adormecido desde meados da década de 80, para o aumento de produção a baixo custo, com o risco de degradar as já precárias condições de trabalho e instigando os cortadores a levarem a sua produtividade ao limite.

Algumas ONG têm denunciado esta situação e as entidades governamentais têm tentado invertê-la, preconizando medidas que, por interesses instalados, nem sempre são aplicadas.

Espero que as condições de trabalho e a fraca compensação do esforço dramático destes trabalhadores, escravos da economia global, sejam revistos e que não venhamos a lamentar, de novo, a tristeza destes números.

O Brasil lembra hoje (16 de Janeiro) o Cortador de cana-de-açúcar...



António Carmo
(Sócio nº 4 do CLUPAC)

segunda-feira, janeiro 15, 2007

Ter um amigo

Ter um amigo é uma bênção, ter um amigo que anda sempre com a casa às costas é uma bênção ainda maior para quem, como eu, colecciona pacotes de açúcar. Eu tenho um amigo destes! Raramente o vejo, não só porque vivemos longe um do outro, mas sobretudo porque ele passa muito tempo fora do país em viagens de trabalho ou de lazer. Mas ele nunca se esquece deste meu hóbi quando viaja e, de vez em quando, recebo no jornal um envelope gigante com mais uma data de pacotes de açúcar que enriquecem a minha colecção. Esta semana chegou mais uma dessas supresas. Bem acondicionados numa série de envelopes (a lembrar as matrioskas) vinham pacotes da Bósnia e da África do Sul. Os meus primeiros pacotes de África do Sul... O mais curioso no meio de toda esta história é que ele nunca viu a minha colecção. Pergunta sempre por ela, quando falamos ao telefone ou trocamos e-mails, mas nunca a viu, nunca lhe tocou. Já por diversas vezes falámos nisso, mas até hoje nunca houve oportunidade para nos encontrarmos e eu lhe apresentar a colecção que ele tem ajudado a crescer. Talvez um dia, quando ambos formos velhinhos, quando ele parar mais por cá e eu tiver uma vida menos agitada do que a que tenho actualmente, possamos finalmente encontrar-nos com tempo e recordarmos as viagens que ele fez através dos pacotes de açúcar que me ofereceu. Até lá, estarei sempre atenta à volta do correio. Quem sabe não chega um envelope com mais uns quantos pacotes de açúcar de terras longínquas? Digam lá se não é uma bênção termos amigos...
Fátima Mariano
(sócia nº 74 do CLUPAC)

quinta-feira, janeiro 11, 2007


Uma Doce Herança

A velha casa dos meus avós em Ferreira do Alentejo já estava fechada há muitos anos. Desde a morte do meu avô, em 1985, nunca mais ninguém cuidara dela, encontrando-se em processo de franca degradação, agravada por inúmeras infiltrações de água, pelo telhado, paredes e terraço.

Após o falecimento do meu pai, há dois anos, houve partilhas na família. Aquela casa de Ferreira era a menina dos meus olhos. Entendi-me com os meus irmãos e coube-me a mim ficar com ela, para meu encanto e para os meus trabalhos.

Antes das obras de conservação que tive que fazer, deparei com uns objectos estranhos que se encontravam meio escondidos, abandonados ao fundo das prateleiras da despensa. Ao princípio não eram mais que uma massa escura e húmida que saía de três sacos de plástico sujos e pegajosos. Habituando os olhos à luz, aproximei-me e verifiquei que se tratava de pacotes de açúcar. Estavam quase todos colados, castanhos escuros do caramelo e dos bolores. Um ou outro tinha escapado miraculosamente daquela amálgama, mas o aspecto geral era arrepiante.

Meti-os todos num caixote, evitando danificá-los e levei-os para casa. Comecei por pô-los em água tépida, por separá-los cuidadosamente uns dos outros, depois esvaziá-los do açúcar, lavá-los de novo, deixá-los secar. Depois de uns três dias de muita paciência, o resultado foi gratificante: apesar de alguns dos pacotes terem ficado um pouco desbotados com a operação de salvamento, muitos ficaram surpreendentemente em óptimo estado, apesar dos anos que tinham e das condições em que estavam.

Entre as muitas dezenas de pacotes recuperados e os muitos que ainda não tinha, lá estava “aquele” que me faltava para completar a lendária série da “Evolução do Homem”, do Manuel Rui Azinhais Nabeiro (Delta).

Que eu saiba, nenhum dos meus antepassados coleccionava pacotes de açúcar. Acho mesmo que os últimos habitantes da casa nem sonhavam que eu os coleccionava. Mas alguém juntou aqueles por alguma razão. E ali esperaram pacientemente por mais de 20 anos que eu chegasse, que os fosse buscar e que com muito carinho tratasse de cada um deles…

Rui Colaço
Sócio Nº 6 do CLUPAC

quarta-feira, janeiro 10, 2007

o paralelepípedo

Paralelepípedo é pedra de calçada
Que apoia a caminhada do romeiro
É marco, é sinal da rota desejada
Na senda do sonho, querer primeiro.

Pedra talhada de calcário ou de basalto
O paralelepípedo tem a forma do caminhar
Eleva o sentir ao seu ponto mais alto
Traça uma rota do partir ao chegar.

O descanso do romeiro é uma pausa
No caminhar rumo à luz, ao infinito
O paralelepípedo é o símbolo de uma causa
E assim está dito e assim está escrito.

Escrever um poema, responder ao desafio
Lançado por alguém que é muito sábio
É atrever-se a bailar palavras, acender o pavio
Ler o paralelepípedo, qual astrolábio.

Paralelepípedo pode ser um pedaço de açúcar...

terça-feira, janeiro 09, 2007

OCASOS

Foi no último sábado de 2006, época propícia a balanços e previsões, que eu e quatro amigos nos encontrámos e nos convidámos para um café.
O dia estava prestes a chegar ao fim, a iluminação dos candeeiros públicos preparava-se para substituir a luz do dia, já crepuscular.

No café, os cinco, sentados à volta da mesa quadrada, tentávamos inscrever aquela figura geométrica no nosso círculo, tarefa sempre difícil pois ninguém gosta de ficar no canto e ao contrário do que acontece noutras ocasiões da nossa vida quotidiana todos preferem de ficar «de lado».

Enfim escolhidos os lugares e repousado o corpo, surgiram os cafés por entre a conversa que, sem escolher lugar se tinha instalado mais rapidamente que nós. Foi quando descobrimos que, sem o sabermos, por isso a descoberta, todos éramos músicos praticantes de instrumentos diversos! Lá estava um saxofone, um trompete, uma trompa e duas guitarras e entre a admiração e o riso se fez a conversa, e o tempo passou incógnito e veloz, como sempre gosta de passar.

À hora de sair, arrumados os instrumentos, cada um rumou ao seu destino. Eu estava duplamente satisfeito: tinha encontrado amigos que não via há algum tempo; e antes de sair tinham-me oferecido um piano!

Na rua só restava a luz dos candeeiros...
António Carmo
(Sócio nº 4 do CLUPAC)

domingo, janeiro 07, 2007

MAGIA (II)

Como até aos Reis é Natal, ainda vamos a tempo de festejar e saudar o Ano Novo de 2007, com a magia das “doçuras”!
Para todos um ano cheiinho de coisas “doces” e muitos, muitos pacotinhos, e que esta “magia” continue a contagiar-nos a todos e se prolongue por todo o ano, contagiando outros e levando a mensagem de Paz, de saúde e de partilha.
E porque os Reis Magos ofereceram ao Menino os seus presentes, vamos oferecer uns aos outros, não ouro, incenso e mirra, mas os doces pacotinhos de açúcar.
E já que falo dos pacotinhos, vou contar-vos um pouco da magia do meu Natal:
Primeiro, a Árvore de Natal que este ano teve, como suporte de beleza, os meus “ricos” pacotinhos de açúcar de Natal de várias marcas com que marido, filhos e netas decidiram enfeitá-la. E estava linda!!! Dizem que para o ano será o “Presépio”.
Depois … o meu “presente de Natal”! Imaginem! Ao acordar, vejo sobre a mesinha de cabeceira um dos meus sapatos e dentro dele um “pequeno” – para mim “grande” – embrulho com pacotes de açúcar e com um grande laço.
Saltei de contente, tal como as netas ao abrirem os seus presentes, ao ver que o meu presente eram duas colecções que gostava muito de ter e que o meu marido conseguiu comprar para me fazer esta deliciosa surpresa!
É bem certo: “basta tão pouco para fazer os outros felizes”.
Afinal, de uma forma ou outra, o Pai Natal ainda existe!
Magia do Natal, magia dos Reis Magos, festa que hoje celebramos.
Para a próxima conto alguns “truques” que uso para aumentar a “doçaria” da minha colecção.
Continuação de muita saúde, alegria e séries novas para todos.
Um abraço,
Maria Idalina Noronha Araújo
(Aveiro)

sexta-feira, janeiro 05, 2007

TROFÉU DE CAÇA

As férias constituem, normalmente, um período de descanso e de distanciamento da rotina laboral, um tempo de saborear o sol e o sal, ou uma oportunidade de conhecer novas paragens e novas gentes. Contudo, as férias de um coleccionador de pacotes de açúcar são, para além de tudo isso, uma autêntica expedição à “pacolândia” … uma obstinada caça aos pacotes. Então, quando o destino é um país estrangeiro, ele enceta um emocionante safari citadino, para o qual arrasta todos os seus acompanhantes, e que termina com um acumular de pacotes capaz de criar alguns embaraços perante os serviços alfandegários.
Reporto aqui o momento alto das últimas férias de Verão na Escandinávia, que tinham como grande objectivo atingir o Cabo Norte (Noruega), quer pelo seu simbolismo geográfico, quer pelo desfrutar do esplendoroso espectáculo do “sol da meia-noite”.

Sol da Meia-Noite no Cabo Norte (Nordkapp)

Uma vez no Cabo Norte, o objectivo parecia alcançado. No entanto, o insaciável instinto caçador impelia-me para a procura de algo mais, para a busca da cereja no cimo do bolo - um pacote de açúcar desse mítico local do nosso planeta. Espantosamente, foi sem grande esforço mas com enorme entusiasmo que o caçador deu de caras, não com um pacote, mas com um cubo … de aspecto discreto, como a querer dizer que naquele lugar a estrela era outra. E assim, lá deitei a mão ao cesto, no balcão de um bar panorâmico com uma vista deslumbrante para o Atlântico, e saquei o meu “troféu de caça” que agora partilho com vocês – o cubo de açúcar do ponto mais a norte da Europa.

Mário Pacheco
(Sócio nº 8 do CLUPAC)

quinta-feira, janeiro 04, 2007

COINCIDÊNCIAS

Certo dia tive que deslocar-me aos Açores em visita de trabalho, mais concretamente à Termoeléctrica da Ilha Terceira. Num voo que saiu de Lisboa às 9 da manhã, tive por companheira uma freira já idosa, que se movia com bastante dificuldade, queixando-se dos pés. “O aeroporto é muito comprido”, lamentava-se. Depois de a ter ajudado a sentar ao meu lado, conversou comigo a viagem toda até à ilha Terceira. Habitava num lar que acolhia meninas desamparadas em Miranda do Douro. Nesse dia saíra de casa às 4 e meia da manhã, para ir para o Porto, onde apanhara um avião para Lisboa. Depois duma escala em Lisboa em que tivera que percorrer quilómetros dentro do aeroporto, ali estava ela a caminho dos Açores. Da Terceira, onde eu me apeava, ela ainda seguia de avião para o Faial, de onde havia de apanhar um barco para o Pico, onde tinha uma irmã à espera, para com ela passar uma semana de férias!

Depois de concluída a minha visita à termoeléctrica e duma curta reunião com os meus clientes, o meu dia de trabalho estava terminado. O meu voo de regresso a Lisboa, por volta das 6 da tarde, foi num avião que vinha já do Faial. Fiquei ao lado duma passageira que vinha em trânsito, uma jovem de cabelo claro – a Maria João – que falava pelos cotovelos: “Ai como estou desejando de chegar a casa! É tudo muito bonito, muito bonito, mas eu já estava fartinha de tanta beleza natural”. Contou-me que era professora primária, que tinha sido colocada nos Açores e que finalmente conseguira colocação numa escola do continente. “Vê lá tu que hoje já apanhei o barco do Pico para o Faial às 4 e meia da manhã. No Faial apanhei o avião para a Terceira, e agora vamos para Lisboa. Mas em Lisboa tenho o meu namorado à espera e depois ele leva-me de carro para Miranda do Douro, que é a minha terra. Vê lá a que horas é que vou chegar!”

A coincidência era notável. Do curtíssimo universo das mulheres que viajam entre Miranda do Douro e a ilha do Pico, no mesmo dia eu tinha acompanhado duas, em ambos os sentidos. Mas as coincidências não ficavam por aqui. Estávamos quase a aterrar em Lisboa e a minha companheira tinha espalhados vários cartões telefónicos. Perguntei-lhe se os coleccionava, mas disse-me que não, que os usava para fazer chamadas e estava simplesmente a juntar os que trazia soltos na carteira. “Aliás, acho isso uma parvoíce, coleccionar cartões de telefone”, disse ela. Contei-lhe então que eu fazia uma colecção que ela provavelmente acharia também uma parvoíce, que era de pacotes de açúcar. Deitou as mãos à cabeça, olhou para mim com um ar aterrado e gritou: “Não pode ser! Tenho mais de mil!”. Depois contou que juntava há muito tempo e que os tinha guardados em caixas, lá para o sótão da mãe. À chegada a Lisboa, fez questão de me apresentar ao namorado e despedimo-nos com abraços e beijos, como grandes amigos, com a promessa de que me daria todos os seus pacotes – pois já não os queria – desde que os encontrasse, lá em casa da mãe.

No meu escritório, esperava-me uma consulta para fazer uma inspecção à barragem de Picote. Na semana seguinte partia a caminho de Miranda do Douro, a cidade mais perto de Picote, onde fiquei hospedado por uma semana durante a execução desse trabalho. Ele há coincidências...

Rui Colaço
Sócio Nº 6 do CLUPAC

terça-feira, janeiro 02, 2007

Situação insólita ou, pelo menos, pouco vulgar

Como habitualmente, pela manhã, quando vou tomar o primeiro “cafézinho” do dia, estaciono o carro num amplo espaço, onde, de uma forma geral os veículos estacionam em duas espinhas paralelas.

Hoje, algo de diferente se passou. Quando regressei do café o meu veículo estava “entalado” entre dois outros veículos. Um na habitual segunda “espinha” o outro nitidamente mal estacionado bloqueando-me completamente a saída.

O Ano tão no começo, primeiros passos dados, um belo dia de sol. Então? Sorriso aberto, pois terá que ser sempre uma situação passageira. De entre as inúmeras pessoas que presenciavam a “cena” destacou-se um jovem brasileiro que sempre foi dizendo: “_Coisa esperta que fizeram com o senhor...”

Claro, que somente deu para rir. Respondi-lhe então: “_Não quer acompanhar-me a tomar um café?”. “_Claro que sim... será um prazer!”. E lá fomos até ao café.

Regressámos com os cafézinhos tomados e uma série completa das que recentemente surgiram no mercado, a terceira série de azulejos (Sete Colinas) da Tofa.

O veículo “bloqueador” já tinha partido e eu segui a minha viagem, enriquecido com mais uma série de pacotes de açúcar.

Victor Reis (sócio n.º 36 do CLUPAC)

segunda-feira, janeiro 01, 2007

A PARTILHA

Como é bom começar um novo ano com uma novidade em termos de pacotes de açúcar. Aproveitei o bom tempo que fez neste primeiro dia de 2007, peguei na família e fomos até à zona saloia. Passámos por Bucelas, almoçámos na zona da Malveira e terminámos em Santa Cruz, já no concelho de Torres Vedras. Confesso que desde que comecei a dedicar-me mais afincadamente ao coleccionismo de pacotes de açúcar que olho com maior atenção para o interior dos cafés e pastelarias para saber que pacotes andam por lá a ser distribuídos. Às vezes, criam-se situações embaraçosas, com os empregdos a olharem desconfiados para mim ou os clientes a dirigirem-me um olhar desafiador. Hoje, tive uma bela surpresa em Santa Cruz quando olhei disfarçadamente por cima do ombro de uma jovem, que aproveitava o sol na esplanada do Café Parque, e reparei que era um pacote personalizado. Lá me dirigi ao interior, pedi um descafeinado (cheio, claro!) e deliciei-me a olhar para o pacote, embalado pela Novadelta. Ao pagar a conta, pedi ao empregado para me arranjar mais "um ou dois", explicando-lhe que era coleccionadora. Pensei que fosse olhar para mim com ar espantado e me oferecesse, de facto, apenas "um ou dois". Mas, para minha grande surpresa, o jovem meteu a mão no cesto e tirou de lá meia dúzia de pacotes que me ofereceu com um grande sorriso. Parece que, a pouco e pouco, os coleccionadores de pacotes de açúcar estão a deixar de ser olhados com se fossem extra-terrestres. E esta é, de facto, uma boa notícia para começar o ano.
Bom 2007 para todos!
Fátima Mariano
(sócia nº 74 do CLUPAC)