CLUPAC - Clube Português de Coleccionadores de Pacotes de Açúcar

quarta-feira, setembro 27, 2006

AÇÚCAR COM IMAGINAÇÃO

Sou uma pessoa de ideias fixas. Quando alguma se me entra pela cabeça adentro e me agrada não a deixo sair sem luta. Há quem lhe chame teimosia. Eu chamo-lhe persistência. Certo dia, era ainda adolescente, meteu-se na cabeça que queria uma chapéu em croché com abas, tipo chapéu de palha. Mas havia um grande problema: como manter as abas direitas? Tanto insisti com a minha mãe (que sempre teve muito jeito para trabalhos de mão) que acabou por me fazer o dito chapéu. E conseguiu com que as abas não ficassem caídas. Sabem como? Pusemos o chapéu numa bacia com água e muito, muito, mas muito açúcar durante várias horas e as abas lá ficaram direitinhas. Claro que com o tempo e o efeito do sol, as abas começaram a descair e tivemos que repetir a mesma operação. Isto tudo para dizer que o açúcar não serve só para confeccionar doces e bebidas. Pode ter mil e uma utilizações. Alguns produtores de maçã costumam pulverizar as árvores com açúcar diluído em água para que estas produzam mais frutos e fiquem com a cor mais viva e os biocombustíveis utilizados em muitos veículos resultam de colheitas agrícolas, entre as quais o açúcar. Também no processo de fabrico do papel se utiliza o açúcar. Para quem tem veia artística, saiba que o açúcar pode também ser utilizado para gravar em couro (é o chamado processo água-forte) ou para desenhar em chapa de metal, quando misturado com a tinta. E quando devidamente trabalhado, pode dar lugar a verdadeiras obras de arte. A propósito disto, queria aqui citar-vos uma reportagem que descobri quando andava a fazer investigação para a minha tese de mestrado. Trata-se de um texto publicado no diário ABC, no dia 28 de Janeiro de 1926, intitulado “As Casas do Assucar”. Fala de um concurso de casas moldadas em açúcar organizado em Inglaterra que o autor, Eduardo Frias, classifica como “um álbum de preciosa erudição”. “Fazer criar o amor pela casa, com o incitamento da guloseima é, devemos concordar, muito bem lembrado”, frisa o autor. E continua: “Enquanto que em todos os países se discute, se barafusta com a crise de habitação, os fleumáticos ingleses carregam o cachimbo, e com uma paciência digna dos filhos do ex-celeste Império, dão-se a edificar habitações, açucaradas, monumentais edifícios, construídos em todo o material do pasteleiro”. Eduardo Frias vai mais longe e diz mesmo que esta filosofia poderá ser a chave para o combate ao insucesso escolar: “Talvez que nas escolas possa tornar mais doce a aprendizagem do alfabeto e a assimilação de vários conhecimentos, desde que o aluno não veja, não sinta a aridez do assunto, mas muito simplesmente, alguns torrões de açúcar. Como vão mais depressa estudar geografia num atlas de mel, ou zoologia com exemplares bem modelados em chocolate?” Como vê, o açúcar pode ter múltiplas utilidades. Basta ter imaginação.

Fátima Mariano (sócia nº 74 do CLUPAC)